29/10/2014

Sobra Um Silêncio

Vida passando
gente morrendo
na fila esperando
a cura chegar

a cura se atrasa
não há pressa, há preço
é caro
é caro
cê tem que pagar

ou paga ou morre
simples assim

ou paga
ou paga
com seu próprio rim

vida passando
gente morrendo
a cura deixando
a fila pra lá

a fila se abrasa
o mal é intenso
entendo
entendo
mas só se pagar

ou paga ou morre
coitado de mim

ou morre
ou morre
pagar?
nem assim...

não sobra escolha
nem tempo nem nada
é caro
meu caro
cê vai se virar

com as mãos para o alto
pois é um assalto

com as mãos para o alto
para a salvação

respira
respira
é só um assalto

respira
respira
é cheque ou cartão?

o cartão foi aceito
e você também
segunda à direita
vai logo, meu bem

abra bem a boca
com a língua pra fora
pra ver se a garganta
aguenta engolir

está tudo certo
a dor não existe
você que está triste
e foi se confundir

está tudo bem
levanta da maca
vê se não empaca
e sai logo daqui

a cura o expulsa
mas a dor persiste
e dói e inexiste
e o mata
e aí?

4 comentários:

Laura Santos disse...

Olá Paulus!
Gostei imenso deste teu poema. De forma escorreita e interventivo quanto baste. Adora o teu acutilante sentido de humor acerca das coisas mais sérias,e é exactamente aí onde tudo nos dói, que o humor é necessário.
E quando uma imaginação é fértil, todo o fruto podre já foi um fruto verde, e resplandecente de maduro...:-)
Gostei, e voltarei quando tiver um pouco de tempo,para ler mais.
Obrigada pelo teu comentário no meu blog.
xx

Si Lima disse...

Gente!! Adorei!! Você parece ter uma facilidade imensa em deixar as palavras surgirem e encaixarem-se umas nas outras. Um dos melhores que andei lendo estes dias *-*

Beijão

Gyzelle Góes disse...

Suas palavras dançam, é melodia, é pura poesia

serra de alencar, gabriela disse...

Um retrato lírico da sociedade moderna. Que sábia compreensão do que se passa a nossa volta!