30/01/2016

Versos Malditosos

Escrevo estes versos para não pedir paz
para violentar o tempo sol e chuva

criar uma série de outros motivos falsos
que não traduzem o sangue e suor que disponho ao escrever

escrevo por não saber me conter
ainda que nada contenha

na carência de novidades
apego-me à invenção de uma mentira descarada
desmentida por mim mesmo três segundos após ser proferida

e escrevo por descontração
tentativa de convencer-te a baixar a guarda
e manter você aí
do outro lado
de alguma forma
aqui

na carência de esperanças de consegui-lo
confio no desespero
e aguardo a decadência impacientemente
enquanto escrevo frases ingênuas para me explicar
como a menina que espera para ganhar sua primeira boneca no natal próximo

na carência de razão no embate palavra invenção
encontro compreensão na força sem modos do discurso emocionado

na carência dum abraço amigo de boas vindas
a funesta dor invade a casa

carência
toda ela imersa na carência de alguém para escrever contando tudo isso

carência

por carência escrevo estes versos
que não deveriam acontecer em minha vida
mas que no entanto são escritos
vividos plenamente na confusão do dia azul
e sentidos com a mesma intensidade
da explosão fatal
de cometas suicidas.


(Paullus Victhórius)

2 comentários:

Daniel C.da Silva disse...

Enigmático, desafiante, belo...

Abraço :)

rafael geremias disse...

sempre o desejo e a falta
depois a busca

essa vontade de dizer coisas a todo custo, às vezes entro em parafuso