tag:blogger.com,1999:blog-6589035236018420672024-03-05T08:52:22.298-03:00FRUTOS PODRES DE UMA IMAGINACAO FEBRILPaulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.comBlogger99125tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-83244356992542401592020-08-30T15:48:00.000-03:002023-10-14T11:35:48.025-03:00SutilezaSutil beleza<br />a sorte<br />a incerteza<br />do que se faz desse homem<br />na hora em que já não olha<br />os olhos contentes<br />a pele que vibra<br />o esmero da vida<br />a sutileza<br />do cacho que cresce<br />e apetece<br />o poema<br />a próxima cena<br />a vida serena<br />que só acontece na hora em que olha<br />porque esse homem<br />sem tal transcendência é nada<br />ou quase nada.<br /><br /> <br /><br />(Paulo Vitor Cruz) <br />Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-71971808908923447812020-08-12T18:49:00.002-03:002023-10-14T11:35:47.407-03:00Caça às bruxas<p>Está tudo à flor da pele <br />mas <br />meu bem <br />não me cancele <br /><br />eu não peço que atenue <br />a revolta <br />o ferimento <br />o ato falho <br />nem desconsidere <br /><br />peço um minuto <br />peço que espere <br /><br />e não negue a correção <br />ao errante do seu lado <br />que couber o aprendizado <br />pois <br />aos olhos do czar <br />dividir é quebrantar <br /><br />estar tudo à flor da pele <br />nos defronta <br />nos compele <br />ao ataque virulento <br />ao completo afastamento <br /><br />não sei quanto o erro fere <br />eu não sei <br />mas calma <br />espere <br />por favor <br />não me incinere <br /><br />ah <br />meu bem <br />não me cancele... </p><p> </p><p> </p><p>(Paulo Vitor Cruz)<br /></p>Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-51337537836269963362020-06-14T16:20:00.000-03:002023-10-14T11:35:45.367-03:00Poema da retomada inevitávelDevolva-me o verde amarelo<br />
sabor fruta fresca banhada em suor<br />
que convida pra festa<br />
e samba e afronta<br />
e capoeira e enfrenta<br />
a mazela na próxima esquina<br />
<br />
devolva-me o verde<br />
o amarelo<br />
e seus sentidos<br />
quero de volta o afago<br />
de tempos idos<br />
<br />
porque o meu verde não farda<br />
floresce diverso e acolhe em paz<br />
cochila gostoso a cuca fresca<br />
<br />
porque o sangue que jorra é ouro roubado<br />
<br />
eu choro arrasado<br />
porque amo e não quero perder<br />
e eu perco e perco<br />
e perco e perco<br />
e então<br />
quero morrer<br />
quero morrer<br />
qualquer morte sem cor<br />
melhor ser vazio<br />
que aluidor<br />
dos matizes<br />
das preces<br />
das casas<br />
das gentes<br />
<br />
já chega<br />
me devolve<br />
devolva-me logo<br />
devolva-me logo o verde amarelo<br />
o tom da aquarela que inunda meus olhos<br />
porque eu quero é batucada à beira mar<br />
<br />
ou me afogo - eu sou poeta -<br />
ou padeço - eu sou poeta -<br />
eu sou poeta e careço<br />
eu careço de vibrar.<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-66478952918228432412020-06-07T15:43:00.000-03:002023-10-14T11:35:47.271-03:00Ode ao BotafogoO futebol não faz sentido<br />o grito de gol é a confissão<br />a catarse é o bom motivo<br />pelo qual se abraçarão<br />
loucos ora comedidos<br />no sofá na arquibancada<br />como quem perfaz o rito<br />de euforia extravasada<br /><br />o Botafogo nasce disso<br />mas é todo um tanto mais<br />feito receber pros filhos<br />o legado dos seus pais<br />pois quem veste a camisa<br />se envolve e torna parte<br />a disputa não seria<br />adjetivada em arte<br /><br />não houvesse o Garrincha<br />pra driblar algum João<br />ou o Túlio Maravilha<br />artilheiro e brincalhão<br />
ou aquela a cavadinha<br />na incerteza da vitória<br />ou Heleno ou Quarentinha<br />ou Biriba e sua história<br /><br />e a superstição certeira?<br />ninguém pode contestar<br />
pois a estrela solitária<br />vibra junto com o seu par<br />o completo apaixonado<br />torcedor botafoguense<br />
eis o grande resultado<br />
e o Botafogo vence.<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-33690838337784852742020-06-06T15:38:00.002-03:002023-10-14T11:35:44.483-03:00Corpo a corpoViolar o corpo<br />
pôr as mãos pra cima<br />
abaixar a cabeça<br />
como quem lastima<br />
<br />
violar o corpo<br />
conter o cabelo<br />
decepar a barba<br />
difamar o pelo<br />
<br />
violar o corpo<br />
recobrir o seio<br />
censurar o dorso<br />
e dizê-lo feio<br />
<br />
violar o corpo<br />
engolir selvagem<br />
aspirar fumaça<br />
e não ter coragem<br />
<br />
de fitar o corpo<br />
sem ser hesitoso<br />
evitar-se o toque<br />
sujeitar o gozo<br />
<br />
violar o corpo<br />
e opô-lo ao tempo<br />
tolerar o dolo<br />
de maldar o intento<br />
<br />
porque morre o corpo<br />
todo e qualquer<br />
o que viola teme<br />
o corpo quer.<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-6509069669924253732020-06-01T20:38:00.000-03:002023-10-14T11:35:41.810-03:00Epopeia à brasileira simplificadaHavia um pobre no aeroporto<br />
e o desejo que estivesse morto<br />
fosse ele mais um funcionário<br />
ou viajasse em um outro horário<br />
poderia até passar batido<br />
esse cordão igual ao do bandido<br />
essa bermuda caída<br />
essa risada atrevida<br />
a voz alta e reclamona<br />
essa camisa bem cafona<br />
e sua mochila agarrando<br />
na esteira das malas justo quando<br />
a bagagem do queixoso passa<br />
ele engole sem choro a pirraça<br />
e a reação deveras temerária<br />
contra esses ares de rodoviária<br />
advindos desses tipos vis<br />
que destruíam todo o seu país<br />
enquanto aguarda a hora da virada<br />
pra sair do armário a pátria armada<br />
e revelar que um filho seu não foge à luta<br />
o filho que é seu<br />
o filho da puta.<br />
<br />
<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz) Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-83288588774928002962020-05-23T16:52:00.003-03:002023-10-14T11:35:48.094-03:00Acalanto companheiroDivididos entre prazer e dor<br />
ele refrata<br />
eu nem vou<br />
ouça-me bem<br />
camarada<br />
ele não é como eu sou<br />
e somos todos distância<br />
somos todos ardor<br />
ardemos<br />
e a floresta<br />
toda noite<br />
está em brasa<br />
a notícia<br />
todo dia<br />
nos arrasa<br />
precisamos<br />
todo tempo<br />
estar em casa<br />
mas tenha calma<br />
meu amigo<br />
não se desespere<br />
pois lhe digo<br />
que o asfalto<br />
- tapete negro onde o progresso desfila -<br />
rio tortuoso repleto de perigos<br />
há de secar<br />
é inevitável<br />
porque não vai dar<br />
é inevitável<br />
não se afogar<br />
quando o bloco puder tomar a rua<br />
porque nós seremos mar<br />
se me preservo é porque quero estar presente<br />
se te preservo é para sermos tão somente<br />
gota d'água ardente<br />
nessa grande festa<br />
a verdadeira festa<br />
no verdadeiro lar.<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-64242611987866541202020-04-28T19:18:00.000-03:002023-10-14T11:35:46.929-03:00FalarioOuça o que<br />eu falo falo<br />falo sério falo<br />eu falo falo<br />falo não<br />quieto falo<br />falarão<br />falo falo<br />quieto falo<br />falo não<br />cala<br />para<br />cala<br />para<br />cala<br />fala não<br /><br />não fala<br />falo<br />não fala<br />falo<br />falarão.<br /><br /><br />(Paulo Vitor Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-25044914815187506242020-04-10T16:39:00.005-03:002023-10-14T11:35:43.800-03:00Clausura<br />
Mas que aperto<br />
ninguém por perto<br />
respiro<br />
o peito<br />
está deserto<br />
a clausura entedia e desespera<br />
me guardo no quarto<br />
lá fora amanhece<br />
e eu anoiteço<br />
empalideço<br />
e me embaraço<br />
e me confundo<br />
e me rechaço<br />
e quero e não quero e quero e não quero aquilo mais<br />
ansiosa a mente<br />
visita o momento em que tudo acaba<br />
o momento em que tudo acaba<br />
e eu renasço<br />
consciente do quanto fere<br />
ser casso<br />
vou urgir o toque nessa hora<br />
e haurir o cheiro<br />
e transpor a pele<br />
para impregnar ligeiro<br />
a carne com o que é humano<br />
como quem preserva o companheiro<br />
do dano destes tempos<br />
de não ser<br />
de corpo inteiro.<br />
<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-37858053918224241672020-03-31T23:10:00.001-03:002023-10-14T11:35:44.685-03:00Ode à primavera que ainda chega<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoCS_rx8_5wt-CElcljk1-TXeVRaadE13kDkome0-NpP5Dtg7YzxZEVRJWo21tX8YysDuCepgqRPtSTKEOjAwGtr16tDFlwoBJIdPvNwq4NjOMyMO12sXq7DexrQwBr5Y6m41OFo-zvYM/s1600/foto01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoCS_rx8_5wt-CElcljk1-TXeVRaadE13kDkome0-NpP5Dtg7YzxZEVRJWo21tX8YysDuCepgqRPtSTKEOjAwGtr16tDFlwoBJIdPvNwq4NjOMyMO12sXq7DexrQwBr5Y6m41OFo-zvYM/s320/foto01.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<br />
A primavera <br /> depende de você <br /> para sagrar-se bela<br /><br />se fica à mercê<br />não se desvela<br /><br />
carece envolver<br />a sua janela<br /><br />quem olha<br />quem vê<br />quem tarda nela<br /><br />quer seus sentimentos transformadores<br />para ascender as suas cores<br />e entender-se bela<br /> <br />como ela<br />como ela<br /><br />portanto<br /> <br />suporte um pouco mais<br />mesmo quando<br />incapaz<br /> <br />não se desespere que esse outono passa<br />não se desespere que esse inverno passa<br /><br />espere a primavera<br />como quem coopera<br />com a boa nova<br />com a nova era<br /><br />tenha esperança<br />que ela te espera<br />feito aquarela<br />transmutando a tela<br /><br />bela como ela<br /><br />primavera.<br />
<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz) Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-24621791614664562002020-03-25T20:42:00.002-03:002023-10-14T11:35:43.663-03:00Reminiscências crepuscularesMamãe precisa ficar em casa agora<br />
o mundo todo agora é perigoso<br />
<br />
mas doce como ela<br />
disciplinada como ela<br />
ficar ocorre bem<br />
<br />
surge aquele tempo de fazer coisas<br />
coisas que a rotina não deixa<br />
<br />
eu ainda preciso sair<br />
mas tenho me cuidado<br />
há um peso nos ombros deixando marcas<br />
há uma vontade sempre urgente de voltar<br />
<br />
justo eu<br />
homem de paz que abomina a guerra<br />
sou mais um soldado<br />
contra o inimigo invisível<br />
<br />
mas tenho me cuidado<br />
<br />
o que me pega desprevenido<br />
se posso confessar no poema<br />
é chegar em casa<br />
vê-la abrir a máquina de costura<br />
- andava de lado há tempos -<br />
perguntando de quem lembrava aquela cena<br />
<br />
ora<br />
tão fácil respondi "da vó"<br />
<br />
então mamãe contou da infância<br />
de ficar perto enquanto vovó costurava<br />
de depois ir escondido<br />
retirar a agulha com desvelo<br />
e costurar alguns sonhos<br />
numa folha de papel<br />
<br />
contou também<br />
da primeira vez que costurou de verdade<br />
uma blusa de alcinha<br />
blusa essa que vovó prontamente aprovou<br />
das bermudas que fez pro meu pai<br />
das roupinhas de bebê pra mim<br />
ela foi lembrando<br />
e foi lembrando<br />
<br />
o fim de tarde foi abrir a porta pra memória entrar<br />
eu juro que sei<br />
mas não quis dizer<br />
que os raios de luz do arrebol traziam as recordações<br />
vindas do céu de onde vovó está<br />
<br />
a poesia tem seus momentos<br />
e estes precisam ser respeitados<br />
da mesma forma como se deve respeitar as mães<br />
e suas capacidades de surgir na hora incerta<br />
com a palavra que mais precisamos<br />
<br />
<br />
o laço remoçou a memória<br />
e a memória estreitou o laço<br />
o laço<br />
apertado nó<br />
que não se desfaz<br />
como só quem sente<br />
é capaz.Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-9769249881181561532020-02-29T16:27:00.002-03:002023-10-14T11:35:42.019-03:00Allegro ma non troppo<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLZk0OMjVrhdW81Z1nMAM6xBcPpYAca_-BN1jPwvioPv_FYAzHXZwbQCEuSU5JPXv8FNJiTFO61O2TSeB6mkNiX9OmSllMpua3zRalzibtvCLNunykrk3pTppxm5jyfq6CFHyFYg8pMno/s1600/Untitled-1.jpg"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLZk0OMjVrhdW81Z1nMAM6xBcPpYAca_-BN1jPwvioPv_FYAzHXZwbQCEuSU5JPXv8FNJiTFO61O2TSeB6mkNiX9OmSllMpua3zRalzibtvCLNunykrk3pTppxm5jyfq6CFHyFYg8pMno/s320/Untitled-1.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
Tire seu sadismo do caminho<br />
que eu quero passar com o meu amor<br />
<br />
ou causo em você o desalinho<br />
desalinho do bom<br />
arrebatador<br />
<br />
tire porque eu não vou sozinho<br />
e quem vem se juntar<br />
vem pra te propor<br />
<br />
a se alastrar no que é espinho<br />
e fazer germinar<br />
tudo o que flor.<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz) Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-18052399833710356502020-02-25T11:24:00.001-03:002023-10-14T11:35:42.767-03:00Respeite o meu carnavalRespeite o meu carnaval<br />são muitas dores que tenho<br />afasta pr'eu respirar<br /><br />deixa eu pintar a face<br />com as cores todas do ar<br />que for invento agora<br />deixa eu na rua sonhar<br /><br />dentro do samba que toca<br />meu tenaz dorso de escravo<br />ou morro aqui de penúria<br />careço sim desse afago<br /><br />respeite o bloco que passa<br />porque o bloco é um só<br />só quem não sofre não sente<br />o laço torna-se nó<br /><br />o nó que não desamarra<br />o nó que é ritual<br />de mitigar a mazela<br />respeite o meu carnaval.<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-17817862220646483602020-02-09T13:47:00.000-03:002023-10-14T11:35:42.699-03:00O poeta louco ataca novamenteEu<br />
que já me assumi poeta louco<br />
devo também confessar-me poeta pai<br />
poeta mãe<br />
poeta família inteira<br />
<br />
tenho as palavras como filhas<br />
as rimas como sobrinhas<br />
o verso como ente querido<br />
e os vocábulos<br />
ah os vocábulos<br />
os vocábulos são os meus meninos<br />
neles deposito todos os meus anseios de homem comum<br />
porque sou pai<br />
e também exagero às vezes<br />
<br />
poeta louco<br />
e pai presente<br />
esforço-me para compreender as minhas meninas<br />
acompanho de perto<br />
- ou ao menos tento -<br />
as mudanças ortográficas<br />
vejo o vocabulário crescer<br />
apoiado em evoluções tecnológicas<br />
globalização<br />
e invencionices populares criadoras de neologismos<br />
comemoro cada novidade como se comemora um nascimento um pai<br />
mesmo que não seja de minha criação<br />
assumo o sentimento de paternidade<br />
e desconsidero a parte lógica da coisa para fazer comparações<br />
para te convencer que faz sentido o que estou dizendo<br />
porque nessas horas é o que me convém<br />
é<br />
eu sei<br />
eu sei<br />
eu sou um poeta louco.Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-58089521520335752012020-02-08T11:02:00.005-03:002023-10-14T11:35:46.245-03:00CamilaMoça<br />
você é bonita<br />
<br />
a forma como existe é bonita<br />
<br />
respira sem medo<br />
como se conhecesse os segredos todos da criação<br />
e então se move entre os cômodos da casa<br />
com a astúcia felina e vivaz de mulher<br />
<br />
notá-la é boa ventura<br />
<br />
o que peço é que passe por mim de novo e de novo<br />
porque te ver passar deixa o dia melhor<br />
e a percepção de que é você por aí existindo<br />
cria em mim um ensejo de esperança indecifrável<br />
<br />
seu ato de beleza é generoso e libertador<br />
possibilita que mesmo minha simplória observação<br />
do movimento corriqueiro do seu corpo<br />
consiga captá-lo sem esforço<br />
<br />
é despertar para uma outra experiência<br />
além dos afazeres comuns da rotina de intentos<br />
<br />
e<br />
se me permite dizer<br />
perdoe a abordagem assim dessa maneira<br />
- nesses tempos de dor e descrença<br />
quedamos ainda mais à flor da pele -<br />
mas é uma necessidade discorrer a respeito<br />
e querer que resistam os seus cachos<br />
os seus olhares<br />
e pensamentos<br />
<br />
a sua reunião de formas e cores é rara<br />
moça<br />
e você é rara e bonita<br />
<br />
e digo<br />
um tanto quanto audaciosa<br />
moça<br />
<br />
você parece uma estrela.<br />
<br />
<br />
(Paulo Vitor F. da Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-16046560593548235402020-01-05T11:20:00.002-03:002021-02-02T20:50:16.189-03:00Jaburu carbonizadoQueima a floresta<br />
queima satanás<br />
queima o que não presta<br />
queima satanás<br />
queima e faz a festa<br />
queima muito mais<br />
<br />
queima o comunista<br />
a quenga<br />
o grevista<br />
o pobre<br />
e toda a lista<br />
queima satanás<br />
<br />
queima sem vergonha<br />
queima satanás<br />
incinera tudo<br />
mata o incapaz<br />
queima o pecado<br />
queima os animais<br />
<br />
queima até os ossos<br />
ergue os destroços<br />
faz valer os nossos<br />
confortados ais.<br />
<br />
(Paulo Vitor Cruz) Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-81037225386535805212019-11-07T23:37:00.001-03:002023-10-14T11:35:47.887-03:00Ponto de encontroEmaranhar-se em laço<div>
tornar-se abrigo<br />dar mais um passo<br />suprimir o espaço<br />abrir-se junto<br />sentir-se uno<br />o suprassumo<br />abraço.<div>
<br /></div>
<div>
(Paulo Vitor F. da Cruz)</div>
</div>
Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-54972703122948736152019-10-27T15:06:00.002-03:002023-10-14T11:35:45.570-03:00Olha só o que a vida está fazendo comigoOlha só o que a vida está fazendo comigo<br />
olha o menino partindo<br />
leva os devaneios<br />
leva o dia lindo<br />
<br />
mas quem leva o sol pra longe<br />
é o meu pensamento<br />
é o passar do tempo<br />
<br />
vida que segue<br />
vida que segue<br />
segue e se faz<br />
como consegue<br />
<br />
se acha se perde<br />
e se multiplica<br />
<br />
já não sou apenas eu<br />
sou teu<br />
sou parte<br />
sou uma lembrança que fica<br />
sou uma saudade que vem<br />
sou parte<br />
e parte<br />
sou quem eu só quero bem<br />
o cachorro na rua<br />
a senhora que passa<br />
o chegar na janela<br />
que não aconteceu<br />
olha<br />
eu também sou filho de Deus<br />
<br />
trabalho e me desgasto<br />
escrevo e respiro<br />
o peito cheio de dores e dissabores<br />
me confunde as cores<br />
porque quem se acostuma com a luz<br />
tende a não compreender o movimento da sombra<br />
<br />
você não está vendo?<br />
quem leva o sol pra longe<br />
é o meu pensamento.Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-2596104868207418982019-10-12T16:40:00.000-03:002023-10-14T11:35:41.327-03:00Está tudo erradoEstá tudo errado<br /><br />está tudo errado<br /><br />o grito abafado<br /><br />o peito apertado<br /><br />o duro recado<br /><br />que nos fora dado<br /><br />de sonho acabado<br /><br />de medo estampado<br /><br />está tudo errado<br /><br />está tudo errado<br /><br />juntou deputado<br /><br />Supremo Senado<br /><br />e o bando safado<br /><br />deixou acertado<br /><br />e foi de bom grado<br /><br />e foi estancado<br /><br />em prol do mercado<br /><br />e foi divulgado<br /><br />e noticiado<br /><br />fiquei enojado<br /><br />está tudo errado<br /><br />está tudo errado<br /><br />se jura sagrado<br /><br />o ódio exaltado<br /><br />o nativo aliado<div>
<br /></div>
<div>
idealizado<br /><br />amigo e engraçado<br /><br />ficou no passado<br /><br />bem preso e amarrado<br /><br />pro bem do reinado<br /><br />do patriarcado<br /><br />seremos livrados<br /><br />de todo pecado<br /><br />sem mais rebolado<br /><br />sem desvirtuado<br /><br />sem ver um barbado<br /><br />com seu namorado<br /><br />não foi comprovado<br /><br />mas vale o ditado<br /><br />mais vale o ditado<br /><br />mais vale o ditado<br /><br />o verso-enfado<br /><br />delata o brado<br /><br />de que está pesado<br /><br />de que está pesado<br /><br />tá tudo quadrado<br /><br />tá muito apertado<br /><br />o cerco fechado<br /><br />o pobre? coitado<br /><br />será massacrado<br /><br />por mero trocado<br /><br />está tudo errado<br /><br />está tudo errado<br /><br />o clima mudado<br /><br />você do outro lado</div>
<div>
<br /></div>
<div>
você do outro lado<br /><br />e o chicoteado?<br /><br />e o sangue espalhado?<br /><br />quem cai baleado<br /><br />cai pra ser calado<br /><br />cai abandonado<br /><br />mas cai revoltado<br /><br />o alvo acertado<br /><br />é comemorado<br /><br />está tudo errado<br /><br />está tudo errado<br /><br />o interessado<br /><br />distorce o dado<br /><br />o branco tá armado<br /><br />o bote tá armado<br /><br />melhor ter cuidado<br /><br />melhor ter cuidado<br /><br />no sinal fechado<br /><br />está tudo errado<br /><br />mas eu me deparo<br /><br />com um dia raro<br /><br />em que eu divago<br /><br />e causo estrago<br /><br />e causo estrago<br /><br />num gesto exato<br /><br />desfaço o boato<br /><br />com todo aparato<br /><br />já imaginado<br /><br />sou aglomerado<br /><br />de antissoldados<br /><br />jamais derrotados<br /><br />ou resignados<br /><br />embora açoitado<br /><br />eu marcho empolgado<br /><br />e grito bem alto<br /><br />e grito bem alto<br /><br />me livro de algo<br /><br />que estava engasgado<br /><br />num último ato<br /><br />de fé insensato<br /><br />pra ser conservado<br /><br />e reverberado<br /><br />gritado gritado<br /><br />e continuado<br /><br />até ser tornado<br /><br />o nosso legado<br /><br />o olhar elevado<br /><br />o pensar infinito<br /><br />o amor desregrado.</div>
Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-17341719777098735932019-08-25T12:26:00.004-03:002023-10-14T11:35:42.631-03:00Noturno entre brumasA mudez umedece meus olhos<br />ficamos no escuro<br />quem pode enxergar?<br /><br />veio a fumaça<br />chofer incidente<br />da noite que deixa<br />a gente sem ar<br /><br />eu sei<br />ninguém sabe<br />já vi<br />ninguém viu<br />fumaça é floresta<br />é made in Brazil<br /><br />ficaram as cinzas<br />e nada ficou<br />apenas vertigem<br />no meu dissabor<br /><br />eu tento<br />e tento<br />quebrar o silêncio<br />que surge por dentro<br />mas falho vetor<br /><br />gasto as forças<br />as chances e as horas<br />ficaram as cinzas<br />e nada ficou.Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-11014060595055802492019-07-30T20:27:00.000-03:002023-10-14T11:35:42.154-03:00Na escola eu aprendi a ser viadoNa escola eu aprendi a ser viado<br />e muito agradeço haja vista<br />que hoje quem me chama de safado<br />veste a mesma farda que o fascista<br /><br />urra que não quer um namorado<br />reza a oração terraplanista<br />bate soca chuta e fica irado<br />não aceita nunca que eu resista<br /><br />vacinado aviso ao patriota:<br />- poupe a saliva e o cuspe acre<br />e vá já lamber a velha bota<br /><br />sempre engraxada pro massacre<br />pra não parecer tão idiota<br />e sobreviver a mais um lacre.<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
(Paulo Vitor Cruz)</div>
Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-12671793744734668792019-07-20T13:00:00.001-03:002023-10-14T11:35:42.289-03:00Julho dezenoveFiquei feliz quando soube que Padre Marcelo Rossi<br />
o padre pop<br />
o padre povão<br />
não quis saber de prestar queixa<br />
contra a autora do empurrão<br />
disse que se fez B.O.<br />
foi da Bíblia e da Oração<br />
me lembrei de alguma forma<br />
do que na vida é ser cristão<br />
<br />
fiquei feliz quando soube que minha mãe<br />
voltou até o vendedor para devolver o troco a mais<br />
e que o homem ficou agradecido e quis recompensá-la<br />
a recompensa pouco importa<br />
pouco importa a gratidão<br />
pra mim vale a memória<br />
de potência da ação<br />
<br />
fiquei feliz quando soube que eu<br />
amargurado com tanta coisa que vejo e sinto e ouço dizer<br />
ainda mantenho a capacidade de esperançar<br />
esperançar<br />
verbo resistência<br />
que é mais forte em comunhão<br />
<div>
verbo fé que não se apaga</div>
<div>
mesmo quando dizem não</div>
<div>
me lembrei de alguma forma<br />
qual a minha direção.</div>
Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-45723981968175545652019-05-18T13:33:00.000-03:002023-10-14T11:35:45.025-03:00Poema de pais e filhosQuando eu fui menino<br />
morria de medo da minha mãe brava<br />
dizendo que ia contar pro meu pai tudo o que eu aprontei<br />
- a meninice vez em quando enriquece as lembranças<br />
ante a escassez de inocência destes tempos -<br />
veja você<br />
lembrar disso e mais aquilo<br />
me convence de que ainda sou menino<br />
agora que morro de rir escondido da minha mãe brava<br />
dizendo ao meu pai que vai contar pra mim tudo o que ele aprontou<br />
<br />
o tempo teve a necessidade de passar<br />
e deixar nítido que meus pais são os meus primogênitos<br />
ao passo que serei eternamente o menino deles<br />
<br />
veja você<br />
relação de pais e filhos é sempre igual<br />
um acontecimento inédito que não se vale de laços de sangue<br />
compatibilidade de gênios ou posicionamentos hierárquicos<br />
não<br />
não se vale de conveniências<br />
nem de convenções<br />
só se vale<br />
de amor.Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-80112143285555622482019-04-20T10:18:00.000-03:002023-10-14T11:35:47.820-03:00IdentidadeSou mosaico humano<br />
emaranhado genético duramente erguido<br />
sou índio<br />
português<br />
africano<br />
italiano<br />
<br />
e posso te contar com detalhes<br />
se for de seu interesse<br />
que meus bisavós paternos eram primos<br />
que fugiram de Portugal atrás de casamento no Brasil<br />
<br />
dizer que o Floriano do meu sobrenome é italiano<br />
que provavelmente já foi Floriani após a chegada da família<br />
mas que sua origem é Ferriani<br />
e que se refere a uma família de guerreiros da antiguidade<br />
<br />
mas não posso te contar da minha origem indígena<br />
só imagino coisas sem nenhuma propriedade ou orientação<br />
não sei a tribo<br />
nem o costume<br />
só sei que o sangue foi tirado<br />
tirado na marra<br />
e que há muita morte em minhas veias<br />
que pulsam com a mesma intensidade<br />
do impedimento histórico em te contar<br />
os detalhes do meu sangue afro<br />
só há manchas<br />
e vazios<br />
e engasgos ensurdecedores<br />
<br />
diante do mar tenho saudade e medo<br />
- a travessia não foi fácil para toda a herança que carrego -<br />
dizem dentro de mim<br />
as lembranças que me foram arrancadas antes de nascer<br />
<br />
eu não compreendo nada desses sentimentos e não poderia<br />
porque a minha identidade é mosaico<br />
emaranhado genético duramente erguido<br />
a minha identidade não tem voz<br />
nem se concebe<br />
e está mesmo fadada<br />
à sina sinistra<br />
de não se achar.Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-658903523601842067.post-57452491534456937692019-03-16T14:11:00.000-03:002023-10-14T11:35:45.702-03:00Momento de glóriaTodo mundo tem o seu momento de glória<br />
<br />
te conto com orgulho<br />
que hoje mais cedo<br />
entre as paredes duramente erguidas<br />
na cidade onde quase tudo é concreto<br />
eu tive o meu<br />
<br />
estava ali na fila do pão<br />
quando apareceu um capitalista degenerado<br />
incitando pessoas a vender a alma<br />
<br />
conversamos por alguns instantes<br />
tentei convencê-lo<br />
mas ele<br />
infelizmente<br />
não observou muito valor na minha existência errante<br />
ofereceu-me um espelho<br />
com a devida delicadeza daquele que carrega nos ombros<br />
a obrigação moral de conceder a todos<br />
alguma chance de negócio<br />
<br />
ofereceu-me um espelho<br />
um espelhinho apenas<br />
nada mais<br />
<br />
posto isso<br />
pensei o tempo que fosse justo pensar<br />
diante de uma escolha de tamanha importância<br />
e aceitei oportunamente o escambo<br />
- captei<br />
entre os desencontros de olhares que me foram permitidos<br />
algum brilho naquele espelho<br />
e tudo o que brilha<br />
me encanta de alguma forma -<br />
<br />
finda a negociata e já em posse de meu novo espelho<br />
vi o mundo doente<br />
<br />
tentei chorar<br />
<br />
copiosamente<br />
porque o momento pedia<br />
<br />
tentei chorar<br />
tentei chorar<br />
tentei chorar<br />
<br />
e eu consegui!<br />
<br />
(Paulo Vitor F. da Cruz)Paulo Vitor Cruz, ele mesmohttp://www.blogger.com/profile/04782524490179109935noreply@blogger.com0